Ao cair por um tropeço
À depressão dei endereço
Caminhei pra um hospício
Fiz do fim um grande apreço
Dispensei um recomeço
Dei valor só ao que tem preço
Que mereço, eu confesso
Nessa dança, reconheço
Não descanso, nem almoço
Eu somente me desfaço
Quando faço um passo em falso
Ao escasso me ofereço
Mas se passa em sua cabeça
O que penso e o que passo?
É só isso que lhe peço
Antes de maçar meu maço
Contudo um avanço já disperso
Cansou procês o meu disfarce
Minha face sempre sonsa
Minha graça já não desce
Mas se a mim você me visse
Num olhar me adentrasse
E a minha dor então sofresse
Meu agir reconhecesse
Na origem da ofensa
No assédio insistente
No câncer padecido
Na distância fluminense
No coração partido
Ah, se você me visse
O sangue espesso e quente
Das emoções permanecentes
De memórias remanescentes
Que por escória não esquecerei
Serão sempre lembradas, infelizmente
Pois, como disse, tropecei
Mas se cê visse a enorme pedra
Entenderia a minha queda
Um tombo em combo que me quebra
Pisei em falso porque havia…
Bom, por onde eu começo?
…Uma dor que me seguia
Um amor que não me ouvia
Um dó que só me impedia
Um nó que após me amarraria
Só isso que lhes peço
E esse nó, porquanto
Agarrara, coçara, tensão que me cegava
Agarrava, coçava e você não observava
Agarrou, coçou, um nó me enfrentava
Entretanto
Agarrei, cocei, estou sempre lutando
Agarraras, coçaras. E você, me observando?
Agora agarrará, coçará, sem mercês me ajudando
O tal nó vai me enfrentar com vocês sequer estando
Logo rogo toda praga a esse o amor
Esse dó e a minha dor
Entre tantos
Outros
Afinal será um assombro
Das noias que aqui vejo
Quando volto por ensejo
Permanência do meu tombo
Ou minha ânsia, meu desejo
Dos viés a que me cobro
Dos papéis a que pelejo
Desequilíbrio do meu ombro
Quem mexeu no meu queijo?
Agora sem quem me aponte o dedo
Mora em mim um grande medo
Ora, eu vim um tanto cedo
Embora andei com esse segredo
Ha muito tempo em meu enredo
Quem irá me visitar?
Sou muito de conjecturar
À expectativa de quem dá
E quem vem pra me sugar
Sofrerei com sá distância?
Sem todas suas tolerâncias
Sem todas suas paciências
Sem todas suas consciências
De toda essa minha desgraça
De tudo que eu faço graça
Do mudo que eu sou em casa
Do surdo que me faz bocejo
Do surto em mim de um assobio
Quem lembrar vem dar-me um beijo
Ou um abraço, ou o queijo
Também isso eu ensejo
Pois desde que eu velejo
Em águas tão longínquas
Crio muitas ínguas
À distância do que almejo
Meu longevo ato final
Será sem um sequer lampejo
Nenhum saco de sal
Que até hoje ainda fraquejo
Farão, sem ignorância, uma linha extensa?
Explorarão toda a minha infância?
Numas sãs ações sensatas com consciência
Dumas áreas pátrias páreas em parar
Minha frequência?
Nos vários bares solitários e aleatórios do Rio
Que vou à toa e soo pária nest’outro império
Pois vim de apenas outr’afluência
Serásse esse sanatório
Sarará o meu suplício?
Parará o que tem sido?
Curará esse meu vício?
Nadará em meu dilúvio?
Que não é nem tão difícil?
Talvez porque falar é fácil
Sem viver o meu Vesúvio
Será que esse ambulatório
Deixará-me sem o que faço?
Saberá o quanto eu calço?
Mudará a minha sina?
Refará o meu laço?
Para eu poder parar e parar
Nos braços da minha menina?
A quem tanto me ensina
E com quem quero sempre estar
Sem minha paranoia ter de lidar
De qualquer maneira
Sei que estou à beira
De um precipício
Essa pedra traiçoeira
Fez-me jus ao suicídio
Desde que pus-me à ribeira
Fugi dessa ribanceira
Que me foi tanto alívio
Só que segui indo à feira
Por pedir seu benefício
Num momento não propício
Fiz de mim um desperdício
Sem que a mim próprio queira
Vem desde adolescência
Meu sangue tão espesso
Por isso teço verso intenso
Pra fazer ordem e progresso
Ao inverso do que penso
Do que peco eu compenso
Por estar já muito imerso
Vou girando o terço tenso
O tornando uma espada
Como num conto de fada
Caço esse mostro imenso
Pra poder libertar minha princesa amada
Festejar com minha família
Dar o monstro como presa à minha filha
E brindar com meus amigos
Que me ajudam com proeza
A me afastar desses perigos
Porém, a vocês, lanço
Não me esforço ou não alcanço?
Fosse a fossa um falso poço
Mesmo a força mais intensa
De um coço tão colosso
Não sai nem sob uma coça
Você mesmo sempre diz
Que não há quem possa
Sair de toda essa joça
Sem fadar à diretriz
De amizades como a nossa
Mas saiba o que me deixou infeliz:
Todo o mal que no bem contradiz
Se torcem dão remorso
Põem berço, eu me contorço
Sem intenção me lançam ao fosso
Por pouco deixam-me a um triz
Antes fosse assim tao fácil
Na coerência e fala mansa
Com bom senso e paciência
Resolver a minha lambança
Minha bagunça na despensa
A origem da minha ofensa
Não lhe peço condolência
Nem presença com veemência
Se em sua crença permanece
O nonsense da minha ausência
Em sua vil desconfiança
Pois nem tudo é o que parece
Mas fizeram da minha tosse
Um sinal de estar em posse
Sem nem sequer se ter prudência
Pra ter pulso e constância
Ser Virgulino no Cangaço
Na desgraça em iminência
Nessa ardência de percalços
Na vigência do que passo
Dos meus laços, me despeço
O que sou será lembrança
Tal Camus fez estardalhaço
Em paz, jaz e já descansa
Essa versão que em mim morreu
Sobrou quem sou de preferência
Pro último ato ter relevância
Para que toda essa sofrência
Seja só passado meu
Que o futuro prometeu
Pra limar minha arrogância
Retirar minha inconstância
Restaurar-me cada membro
Vou reaver minha elegância
Fragrância que, nascida em julho
Com orgulho ainda lembro
Por guardar cada embrulho
Dos presentes que nos demos
Tão presentes quanto somos
Pois presentemente eu posso
Considerar-me um sujeito de sorte
Neste Norte em que deleito
Sem que em leito deite à morte
Sigo vivo e imperfeito.